Hoje a mágoa regressou com a precisão cruel de algo que sabe exatamente onde me encontrar. Liguei a música na Back to Black e as lágrimas correram livres, negras, tão negras quanto o meu semblante cansado.
Deixei passar o teu aniversário. Não por esquecimento, porque ainda sei a data de cor, mas porque a forma como nos despedimos foi demasiado fria, demasiado cortante, impossível de atravessar sem voltar a sangrar por dentro. E, sendo honesta comigo, nunca chegaste a evidenciar o meu.
Volto ao teu último contacto e às palavras que nada diziam, como quase sempre. A data, porém, ficou gravada. Porquê, R? Que lógica secreta seguiste naquela escolha?
Recebi um convite da minha editora para assistir a uma palestra. O orador tinha o teu nome. R. Talvez tenha sido esse detalhe, tão pequeno e tão feroz, que abriu de novo o peito e libertou este aperto que me interroga por dentro. Foi como recordar o momento em que desligaste, sem aviso, o suporte básico de vida do meu emocional.
Sinto tanto a tua falta. É uma ausência palpável e, ao mesmo tempo, impossível de agarrar. Escapa-se-me sempre que tento tocar-lhe. Perdemo-nos de vez ou apenas nos deixámos cair por exaustão?
A tua voz continua a morar em mim. A musicalidade dela. O modo como preenchia o silêncio. Ainda te procuro sob a copa das árvores; desligo a música assim que entro na floresta e fico atenta, como se pudesse ouvir a tua gargalhada a abrir caminho entre os ramos. Mas ela só ecoa dentro da minha mente.
Onde estás? Volta para mim.


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