quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Yin & Yang

Deixo-me levar para a suite, sem pensar em nada de concreto. Oiço somente o vento lá fora e um ramo da grande árvore junto ao palácio que parece bater na janela a querer fazer-se convidado. Petra, sempre silenciosa e de olhos brilhantes, despe-me lentamente enquanto lhe sinto o toque frio das mãos. Arrepio-me. 

Estou nua. Ela observa-me com atenção, para cada centímetro da minha pele exposta. Surge-lhe um leve rubor no rosto e avança para mim. Eu, ausente de pensamento, somente observo, vazia de expectativa, como que soubesse que é assim que tem de ser e não de outra maneira. 

Uma unha desliza pela minha boca, queixo, peito, continua a descer, barriga, umbigo, baixo ventre. Pára. A palma da sua mão envolve-me e cobre-me. A boca dela faz o percurso de volta. Língua a reconhecer baixo ventre, umbigo, barriga. Desvia a rota para o mamilo esquerdo, as minhas costas arqueiam. Retorna a rota inicial, peito, queixo, boca. Entrelaçamos línguas num beijo carnal, arrebatador. O ramo da grande árvore parece reclamar por não participar. 

Desço o fecho do vestido dela. Nada por baixo a não ser a sua pele marmórea de tão pálida, com um ligeiro perfume de si mesma. Ela força-me a sentar, ambas no centro da enorme cama, pernas entrelaçadas uma na outra, os nossos mamilos roçam-se à medida que um outro beijo começa. Lento, de saborear, sentindo cada relevo da língua invasora, do sabor da sua saliva, no prestar atenção aos seus movimentos. 

Sinto aquele baque de prazer. Sinto-o escorrer. Ela empurra-me gentilmente de encontro às almofadas e segue a saborear-me. Sabe o que faz. Sinto-me dormente, sincronizada com a sua língua e com os lábios que me envolvem entre as pernas. Ausente de pensamento, somente sinto, vazia de expectativa, como que soubesse que é assim que tem de ser e não de outra maneira. 

Reina o silêncio. O ramo deixou de bater na janela, resignado à sua sorte. Petra jaz adormecida a meu lado, com a sua mão esquerda enlaçada na minha mão direita, sinto-lhe a respiração silenciosa e quente no peito. Yin e Yang. Petra e Alice. Petra é Alice. O equilíbrio. 

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Balance

Dou muitas vezes por mim a questionar-me do que terá sucedido a fulano/a e beltrano/a com quem me cruzei em tempos idos. A sequência é sempre a mesma. A pessoa vem-me à memória, recordo como ela surgiu na minha vida, o tempo que demorou nela e o desfecho que a fez desaparecer. 

Petra é uma dessas pessoas, muito embora apareça e desapareça com uma naturalidade estonteante que levaria qualquer criatura à loucura. Ser peculiar de pele de porcelana e cabelo negro como carvão, todos os olhares a seguem para mirar os seus enormes e enigmáticos olhos verdes. Não é para menos. Petra é uma mulher lindíssima e segura de si, daquelas que amedrontam os homens, por mais egocêntricos que sejam. Sempre incontactável, é ela quem me procura e encontra, sempre que necessito da sua palavra. 

A última entrevista que tive com ela deu-se há dias. Como sempre lhe apraz, surgiu no meu palácio à primeira luz da aurora, vestida com o seu já familiar sorriso aberto e afável, sempre de negro como os seus cabelos, perante os ares boquiabertos de alguns aldeões vizinhos. 

- Aqui me tens, minha bela Alice! Vim mal tive conhecimento que me chamavas. - disse-me quando surgi nos portões do palácio, ainda cobertos do orvalho da noite passada. 

Ao contrário da Petra, eu estava de branco com os cachos dos meus cabelos loiros a cobrirem-me as costas. Yin e Yang, Petra e Alice, o equilíbrio. Equilíbrio que tantas vezes o sinto na pele quantas o deixo escapar por entre os dedos. 

A minha troca de olhares com a Petra disse-lhe tudo o que eu precisava que ela ouvisse. Enlaçou as suas mãos nas minhas, beijou-me os lábios suavemente e encaminhou-me para a escadaria que dá acesso à grande porta ornamentada do palácio. 

- Vem, precisas de relaxar para que coincidas o teu interior com o teu luminoso e resplandecente exterior. 

sábado, 13 de agosto de 2022

Full moon

 Hoje é noite de lua cheia. Noite de desejos e vontades, noite de admiração por uma esfera longínqua imensamente iluminada. 


A lua cheia sempre suscitou inúmeras estórias, foi aliada de romances e testemunha de batalhas e ali permanece; na negritude do céu, impávida e serena, sem se pronunciar. 


A lua cheia teve uma conotação especial entre nós. Sempre que surge, olho para ela e é inevitável pensar em ti. Mas perdeu-se algo. Não pela tua actual condição que, assim me confesso, me deixa mais tranquila, mas pela quebra ocorrida e inesperada que provocaste. 


Há decisões que mudam tudo. Transformam aquilo que era e por mais que desejássemos que voltasse ao que era, nada fica igual, transformando-se numa miscelânea entre o desejo e a realidade. 


Lua minha que tanto brilhas, entre defensores de reflectores do Sol e luz própria, foste testemunha, no tempo que já passou e jamais se voltará a repetir, do sonho, pesadelo ou, simplificando, do que poderia voltar a ser e jamais será. 

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Escrita criativa.


De há alguns anos para cá, esta expressão surgiu e deu origem, até, a cursos (de quê, para quê?!) com o mesmo nome. Mas o que é, do que se trata a escrita criativa? A meu leigo ver, não passa somente de propaganda de um qualquer produto contrafeito e de pouca qualidade. O que apelidam de escrita criativa existe há séculos. Baseia-se em muita leitura e consequente escrita de escritores. Basta folhear um qualquer nome associado à Literatura Universal para sabermos, sem explicações, o que é a escrita criativa. Basta entregarmo-nos a letras e palavras e frases e parágrafos, basta mergulharmos naquilo que foi outrora pensado, criado no cérebro de uma pessoa e transposto para folhas de papel. Escrita criativa. Termo ofensivo à Literatura Universal que afinal tão somente é amor às letras e às palavras e às frases e aos parágrafos. Escrita criativa não existe. Existe, sim, amor à escrita. 

domingo, 24 de julho de 2022

Your touch is like fire

És aquela doce tentação. A loucura sem pensar no depois. O teu toque… ai o teu toque. Transporta-me para tempos idos, numa outra vida. O teu olhar mantém-se. Fixo os teus olhos e por mais futilidades que estejas a debitar, recordo em catadupa imagens, toques, palavras. 

Por vezes fico confrangida. Questiono-me imensas vezes se não é por demais evidente. Olhos não mentem. E dou por mim, no silêncio da minha mente, no meio do ruído envolvente de conversas cruzadas e gargalhadas sonoras, a querer passar o meu polegar nos teus lábios como outrora e sussurrar apenas; shhhhhh…

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Unfulfilled Wishes

Há desejos assim; não concretizáveis. Quem nunca?

Não me refiro, obviamente, a desejos materiais. Esses têm uma ínfima hipótese, por mais remota que seja, de se realizarem. 

Mas os emocionais não. Os desejos emocionais não concretizáveis são os mais dolorosos. Pela certeza dessa realidade, chegam a ser cruéis. 

Uma vida que parte, uma ligação que nunca foi o que devia ser, outra que irremediavelmente se quebrou, ou até que nunca chegou a existir por mais que o desejássemos. 

É raro mergulhar neste tema, mas por vezes ele vem à tona cutucar-me. Sinto a dor de não estar nas minhas mãos. Sinto a mágoa do abandono de outrem. 

Por outro lado, e por mim falo, essa dor, essa mágoa ou até mesmo frustração - conforme lhe quiserem chamar - é o fio condutor que me move, que me impulsiona a ser mais e melhor. Que me incita a ser tudo aquilo que desejei que fossem comigo e que não são. 

Porque quando já não estiver por cá, quero ser lembrada com amor, saudade. Não com dor ou mágoa. Ou pior, indiferença. 

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Sometimes it's just disappointment

Vitamina D. Nunca desilude. Carrega baterias, eleva-nos o espírito, faz-nos sentir bem. O tempo está carrancudo, insiste nas nuvens tristes que choram de vez em quando, mas ainda assim insisto em beber o meu café matinal na varanda do meu palácio para que possa aumentar os meus níveis de serotonina.

Sem pedir licença, instalas-te confortavelmente no meu pensamento e sorrio. Sempre inconveniente e imprevisível. Sinto a tua falta, mas não te incomodo. Ando demasiado egoísta e atormentada com assuntos só meus. Estou e sinto-me chata.

Did you ever felt that some people goes from great to just meh?

It’s me. 

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Reviving

 

Vi em tempos um sketch engraçado que retrata, primeiramente, o aborrecimento de ler. Depois, movido por uma curiosidade despercebida, a figura embrenha-se então num mundo alucinado de aventuras literárias. 

Termino agora um livro do qual não esperava um desenlace trágico. Estava a lê-lo avidamente, uma vez que a personagem que dá o título ao livro me fez reviver um dos períodos mais negros da minha vida. Revi-me nela em muitos dos pensamentos descritos, nas ideias absurdas, nos sentimentos carregados de dor, nos diálogos que via e revia na minha mente, na contrariedade do que devia ter dito e não disse, no que não tinha sentido proferir depois. 

Relembrei, toldada na dor de uma humilhação que não deveria ser minha, o pensamento que me assolou momentaneamente para provocar a minha própria morte. Não por amor não correspondido, mas por o meu pouco amor próprio ter sido dessa forma ferido. Por humilhação de não me ter conseguido proteger, por não ter querido ver o óbvio. 

Li este livro para tentar descortinar uma solução para aquilo que me atormentou em tempos, mas nem ele tem a resposta que, para ser sincera, não interessa nem se aplica aos dias de hoje. Mas vivi tudo de novo, numa presença bizarramente sentida, como se tivesse sido atirada a esses anos de uma pena cumprida por um crime não cometido. 

Revivi. Agora tenho somente de arrumar novamente o assunto e partir para outro livro. Novas aventuras me esperam. 

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Bubble


A nossa realidade não é real. É metafísica. Não se explica. Sente-se. Nada da realidade mundana e corriqueira se nos aplica. Somos somente sensoriais. Há trechos de músicas, partes de letras que nos descrevem, que decifram cada respiração, cada palavra, cada arrebatamento, cada sensação ou sentimento. Há um entendimento surdo, mútuo. Há a palpitação de momentos únicos, o aperto no peito da saudade que queima por dentro, a ânsia para um reencontro de olhares, de gestos, de palavras mudas que ninguém ouve a não sermos nós. 

O que somos? O que seremos? Estamos afastados, mas nunca estivemos tão próximos, nesta bolha que é só nossa. 

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Solitude


A vida é simples se assim quisermos que seja. Mas nem sempre o nosso cérebro acompanha essa realidade. Podemos ter uma vida estável, feliz, sem problemas de maior para resolver. No entanto, surge aquela nuvem negra, que nos persegue para onde quer que siguemos. 

A música nem sempre ajuda. Tentamos puxar pelo lado racional, “está tudo bem, caramba!”, mas há aquela musicalidade com capacidade que nos eliminar o racional, que nos puxa para o pântano, que nos força a verter lágrimas, mesmo sem causa aparente. 

Instala-se então uma solidão imensa. Daquelas que, por mais acompanhados que estejamos, nos parece gritar ao ouvido “não chega! Estás só!”, uma espécie de curved ball da qual ninguém está à espera. 

O que fazer? Leio. Tomo como minhas as dores das mais diversas personagens. Imagino o que faria no lugar delas num passado longínquo em terras distantes. Extravaso no duche onde lágrimas nada mais são que água que sai de um chuveiro. Reconforto-me n prazer de um toalhão aquecido e fofo enquanto este me aconchega o corpo. Treino que nem uma louca para deixar o corpo exausto ao ponto do meu cérebro se conectar somente à dor física de músculos macerados. 

É quando o passado nos assombra, na altura em que o cérebro está exausto ou ausente. É quando a tristeza ou a ira de momentos passados insistem em se impor em “e sses?”. 

Mas a realidade sempre prevalece. Não haveria “e se” se o passado fosse realidade. E se não o é, é porque foi melhor assim. Não há passado bom se não se repercute na realidade. 

terça-feira, 29 de março de 2022

Love

Amo-te como certas coisas obscuras são amadas, secretamente, entre a sombra e a alma.

quarta-feira, 16 de março de 2022

Infinity

Baby, this love

I'll never let it die
Can't be touched by no one
I'd like to see 'em try
I'm a mad man for your touch, girl, I've lost control
I'm gonna make this last forever, don't tell me it's impossible
'Cause I love you for infinity
I love you for infinity
'Cause I love you for infinity
I love you for infinity
Oh, darling, my soul
You know it aches for yours
And you've been filling this hole
Since you were born, oh
'Cause you're the reason I believe in fate, you're my paradise
And I'll do anything to be your love or be your sacrifice
'Cause I love you for infinity
I love you for infinity
'Cause I love you for infinity
I love you for infinity
Meet me at the bottom of the ocean
Where the time is frozen
Where all the universe is open
Love isn't random, we are chosen
And we could wear the same crown
Keep slowing your heart down
We are the gods now
'Cause I love you for infinity
I love you for infinity
'Cause I love you for infinity
I love you for infinity

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Elusive Description

A indescritível descrição de prazer. 

Por onde começar? A respiração acelerada, os teus dedos que exploram o meu interior, a tua boca que saboreia o meu sabor, os meus dedos enredados no teu cabelo e por fim, a explosão que me ofereces, o meu corpo que estremece, as minhas unhas que se cravam nos teus ombros. 

Loved my gift. 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Valentine’s Day


 

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Get lost.

Cansa-me esse teu papel imaculado de bom samaritano. Aquele de boa fé de alma limpa e com consciência puritana. 

Poupa-me. És um merdas, como aliás todos somos. Mas uns assumem-se, outros tentam passar-se por criaturas que jamais serão. É o teu caso. 

A minha ausência de contacto foi devidamente notificada. Não sou alma de duas caras. E não mudo só porque passa um dia, ou uma semana, um mês. Esses cenários bipolares deixo-os para ti. 

Foste um passatempo em tempos idos. Foste um entretém em tempos recentes. Se não serves os propósitos devidos, nada mais és que um inconveniente que eventualmente terei de encarar um dia, se é que o farei, a menos que o forces. E se o fizeres, ainda és mais merdas do que havera calculado inicialmente. Mas nada que me surpreendesse de alguém dissimulado e que mente com a maior naturalidade do mundo. 

Disse-te em tempo para não confundires o meu nome com nome alheio. Não esperes agora que me comporte como pessoa alheia. 

Não me conheces de todo, pois não? Get lost. 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Dueto (Parte V - Final)

Uma das minhas mãos liberta as molas do body de forma automatizada e abraço-te igualmente com a perna em que tocas. 

Encosto-me nas costas do sofá e termino de desabotoar os botões da camisa. Afasto-a e deparo-me com um tronco ainda bronzeado, definido e começo a beijá-lo, lábios e língua, sentindo o teu cheiro, ouvindo a tua respiração. 

“Se isto for bom como promete, como conseguirei resistir a deixar de o ver e sentir frequentemente?”  Penso para mim. Mas entretanto o meu body já tinha desaparecido e a minha saia ficou reduzida a uma faixa na cintura. A tua camisa já estava no chão e as tuas calças também, embora nem me tenha apercebido como. 


Trocamos olhares novamente, sempre em silêncio. Não há lugar a mais pensamentos. Ergues-me e abraço o teu colo, sentindo-te contra mim.


***


Subo a mão ao longo da tua coxa, fujo deliberadamente do centro, depois dirijo-a ao umbigo, continuo, lentamente, até sentir a renda do soutien fino. Procuro o bico, sinto-o erecto, massajo-o suavemente.

Ao mesmo tempo, aproximo a boca do teu peito, desço a língua pelo esterno, gosto do sabor da tua pele, onde deixo um rasto húmido. Provoco-te brevemente, introduzindo a língua no teu umbigo, depois continuo a viagem para sul, para o sal Venço o obstáculo da saia engelhada e chego ao teu string delicado.


Respiro o teu cheiro, aproximo a boca até lhe tocar ao de leve e deixo-te sentir o calor da minha respiração.

A minha mão direita segura agora, firme mas suavemente, a tua mama, enquanto a esquerda afasta o tecido e me dá acesso ao epicentro do turbilhão que sinto em ti Avanço a língua a lambo, muito, muito lentamente, de baixo para cima, até chegar ao clítoris já bem desperto, onde me atardo, em vagarosos movimentos circulares.


***


Sinto palpitações em cada centímetro da minha pele e respiro de forma ofegante. Entrelaço os dedos nos teus cabelos, usufruindo cada segundo, reconhecendo cada movimento que me aproxima do êxtase. 

Puxo-te para mim, beijando-te com vigor enquanto desço a mão para te sentir duro para mim. Empurro-te para o sofá e não espero. Sento-me contigo e forço-te a entrar em mim de uma só vez, com força. Estremeço. A nossa pele reflecte o dourado das luzes do bar. A nossa respiração ofegante é a nossa banda sonora. 


***


Sobes e desces, variando o ritmo, e eu acompanho-te, como se tivéssemos uma coreografia bem ensaiada. Saboreio cada segundo, é delicioso sentir plenamente a progressão da penetração, até te tocar no mais fundo de ti.


A minha erecção torna-se quase dolorosa, de tal modo me excitas e me deixas duro. Olho-te nos olhos, uma vez mais. Estás lindíssima, iluminada pelo desejo crescente.

Pressinto que estás quase pronta, e hesito Acompanho-te no teu êxtase? Não, decido que ainda não. Está demasiado bom, quero fazer durar


***


Sinto-me louca. Olho-te nos olhos e acelero o compasso, não quero esperar mais, até porque isso não significa o fim.


 Creio que vás passar uma noite por Lisboa.  sussurro-te ao ouvido entre gemidos. 


E acelero o movimento, cada vez mais e à medida que me contraio, sabendo que chegaremos ao êxtase em uníssono. 


***


Compreendo que estás determinada e cedo, volto atrás na minha decisão. Aproxima-se o ponto de non-retour e deixo-o vir, estou em plena sintonia contigo e sei que já não vale a pena controlar-me.

A sensação é indescritível, como se fosse um vulcão a preparar uma erupção violenta.

Aumento a velocidade do movimento dos quadris, sincronizado contigo. Agarro-te as nádegas com força, gemo como tu gemes e, mesmo adivinhando a resposta, pergunto-te num murmúrio rouco:


— Posso?


***


Aceno levemente, sabendo que o detectaste


Os gemidos ecoam para lá do bar, pelos recantos mais recônditos do palácio. 

O êxtase chegara por fim, num turbilhão difícil de escrutinar. Agarro-me a ti num abraço forte e sentido. Nada disto estava planeado, sequer idealizado da minha parte. 

Após uns minutos que nos permitem compassar um êxtase múltiplo da minha parte, pergunto-te:


 Vamos seguir para a sessão em nu artístico? Estou vestida a preceito.


domingo, 30 de janeiro de 2022

Dueto (parte IV)

Em vez de responder, sigo-te — adivinho que é isso que queres. 

Vou muito perto de ti, mas não tão perto que não fique fascinado pelo modo como as tuas ancas jogam quando andas

E, quando páras para pegar na garrafa, dou por mim, habitualmente tão discreto e reservado, a pôr nelas as minhas mãos, a encostar-me a ti, e a murmurar:


— Parece-me que as fotografias vão ter de esperar


***


Sorrio e circundo as minhas mãos no teu rosto, entrelaçando os dedos na nuca. 


 Shhhh…  faço, passando a minha língua nos teus lábios. 


Fecho os olhos e tudo é sensorial. Ouço um tic-tac distante, o restolhar de folhas nas árvores lá fora, o cheiro do teu perfume. 

Trinco o teu lábio levemente ao sentir as tuas mãos deixarem as minhas ancas e suspiro na expectativa. 


 Sim, vão ter de esperar.


***


Percebo que ficaste surpreendida por eu ter retirado as mãos e decido prolongar a tua incerteza. Fico imóvel, dois, três, quatro segundos, até que abres os olhos. É então que cravo neles os meus, te enlaço pela cintura, te puxo para mim e te beijo longamente, a minha língua dançando com a tua.


Respondes-me com todo o teu corpo, com todo o teu ser. Rodeias-me o tronco com os braços, pões as mãos nos meus ombros e apertas-me contra ti. Sinto o teu peito esmagado contra o meu e saboreio cada sensação. Assalta-me uma vontade súbita de precipitar os acontecimentos, mas retomo o domínio de mim mesmo e limito-me a fazer durar o momento. Imagino a imagem das nossas línguas que se enrolam, toco com a minha cada milímetro da tua, e essa imagem deixa-me louco de excitação.


***


Sem pensar, permito-nos o beijo contínuo e começo a desabotoar a tua camisa, impecavelmente engomada quando chegaste. 

A temperatura no bar é acolhedora, convidativa. Puxo-te para um dos sofás de veludo sem te conseguir largar, nem interromper o ritmo sincronizado das nossas línguas. Desaperto-te o cinto, o botão das calças e sinto-te ofegante. 


Interrompes o beijo bruscamente, seguras-me com vigor ligeiramente acima dos cotovelos, afastas-me de ti e olhas-me novamente nos olhos. Cabelos completamente selvagens, boca mais rosada em sintonia com um blush natural, retribuo-te o olhar, ainda meio ofegante, excitada pela expectativa.


***


Os teus olhos brilham, quase febris. Transfiguraste-te rapidamente, tal como eu. O desejo mútuo adensa-se, palpável, à nossa volta.

Não quero estragar a roupa que escolheste para a ocasião, mas é irresistível subir-te um pouco o body, pousar as mãos na tua cintura, acariciar-te levemente. QueimasQueimas mesmo, ou é de mim?


Encaixo o rosto no teu pescoço, aspiro o teu perfume, passo a língua, lentamente, na tua pele, na tua orelha.

Com suavidade, vou fazendo mais leve, imperceptível, o toque das minhas mãos. É com surpresa que te apercebes de que a minha mão direita já não está na tua cintura e, sob a saia, te agarrou a coxa esquerda.


***

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Dueto (parte III)

 Noto um certo entusiasmo da tua parte. Mas fico apreensiva com a observação à minha alma. Sou algo obscura, não me agrada essa revelação. No entanto, já permiti a tua vinda. Será o que tiver de ser. 

 Segue-me, então. Comecemos pela biblioteca e depois logo terás carta branca para o que considerares mais proveitoso.  pisco-te o olho, provocando. 


Sigo em passo seguro observando-te de soslaio. Homem maduro, em boa forma física, dotado de inteligência apurada e, de acordo com alguns trabalhos fotográficos que me deste a conhecer outrora, com uma capacidade incrível de percepção do outro. 

Trinco o lábio com a ansiedade do que virá. Estarei eu à altura do desafio?


***


Instalo o material de iluminação, mantendo quase sempre um olho em ti. Noto que me observas com curiosidade, tentando disfarçar.

Peço-te que te sentes à secretária, procuro um ângulo lateral, a 45º, que permita ver-te da cabeça aos pés, sentada na cadeira. Isso permite também que a luz da janela crie uma aura nos teus cabelos. Nesse quase contra-luz, sobressaem do teu rosto os olhos e o sorriso.

Viajo com os olhos pela linha da tua mão elegantemente pousada sobre o papel, subo pelo braço, detenho-me um pouco na forma do teu peito que a roupa que escolheste faz sobressair, desço pela anca esquerda, continuo pela perna esbelta, até ao pé.

Gosto do que vejo e tento manter a concentração. Estou ali para fotografar!


***


Sinto o sol no rosto quando me sento na secretária e olho para nenhures, tentando descontrair e abstrair-me da objectiva apontada a mim. O tempo parece não passar e o tic-tac do relógio parece estar em câmara lenta. 

Fico curiosa do porquê de não ouvir o click da máquina e fixo o olhar em ti. Vejo um rubor súbito no teu rosto, denunciando uma… distracção evidente. Sorrio. 


 A câmara tem temporizador que possa tirar as fotos por ti?


***


Percebo que fui apanhado. Finjo que não percebi a ironia e respondo, o mais naturalmente possível:


— Não, preciso só de compor uma mecha de cabelo que está a perturbar o enquadramento Posso?


Faço a pergunta, mas, sem te dar tempo de falar, aproximo-me de ti, coloco os dedos por baixo do teu cabelo, afloro-te o pescoço e a nuca com as costas da mão Sinto-me estremecer, e sinto o teu estremecimento também. Terá sido da surpresa, ou algo mais?


— Pronto, assim está melhor


***


Sinto e vejo a minha pele a reagir ao teu toque, à medida que a tua mão desliza na minha nuca. O dia está a ficar mais frio, mas mal o sinto. Pelo contrário, sinto um calor confortável a envolver-me da cabeça aos pés e quase me esqueço do desconforto que a sessão me provoca. 

Observo-te quando te afastas novamente, procurando por um indício daquilo que, no fundo, sei que desejas. Sorrio novamente na expectativa. 

Sem demoras, levanto-me e encaminho-me para a porta. 


 Se não te importas, acho que estou a precisar de beber alguma coisa para descontrair. Trago para ti também? Espero que não estejas com pressa.


***

domingo, 23 de janeiro de 2022

Dueto (parte II)

 — À tua escolha. Prefiro neutros (preto, branco), mas veste o que entenderes que te deixa mais à vontade. Quanto à maquilhagem, gosto quando não se nota. Mais tarde, se quiseres fazer algo diferente, poderás carregar-lhe bem — disparo, com um sorriso.

Afastas-te e sais, sabendo bem que o meu olhar está colado a ti.

Pouso a mochila da máquina e o saco das luzes e dirijo-me ao balcão. Com este tempo, tomaria de bom grado um irish coffee. Contento-me com um dedo de whiskey  o café e as natas ficam para depois


Pego na máquina fotográfica e sento-me, com ela e o copo à minha frente. Mesmo tendo a certeza de que fiz já tudo isso em casa, revejo as regulações e a carga das baterias.

Começo a pensar o que farei com ela, como captar o teu sorriso e o teu olhar, como criar uma aura luminosa nos teus cabelos. Onde quererás ser fotografada? Aqui no bar, perto da lareira acesa, estou confortável. Mas será que o palácio é bem aquecido? O meu pensamento divaga, antecipo cenários possíveis e não sinto o tempo passar.


***


Demoro mais tempo no duche do que houvera decretado. Deixo a água escorrer-me pelo corpo e continuo apreensiva. Não sou muito dada a captação de imagens, sinto-me despida de alma, por assim dizer. 

Ainda assim, que seria de mim sem estes desafios fora da caixa? permito-me pensar. Saio do duche e olho para o relógio. “Foda-se!”, penso. Seco os cabelos o melhor que posso, coloco uma bruma suave no corpo e apanho a roupa que me parece ser mais apropriada. 


Quando chego ao bar, dás de cara comigo, de cabelos desalinhados, pencil skirtbody rendado nas mangas e sapato de salto, tudo preto como solicitaste. Achei que seria um contraste interessante com o dourado dos meus cabelos. Maquilhagem muito natural, apenas rímel. 


Olhas-me directamente nos olhos esboçando um sorriso. Sinto-me meio envergonhada pelo meu (mais um) atraso, algo completamente atípico da minha parte e sinto-me corar. 

 Peço imensa desculpa pela demora! Onde pretendes montar o cenário? Pensei talvez na sala, que é decorada em tons pastel ou, para mais impacto, na biblioteca, mais ao estilo vitoriano. 


***


Que chegada gloriosa! Não consigo tirar os olhos da tua face levemente ruborizada, dos teus cabelos que ganharam vida nova com o duche, dos teus lábios irresistivelmente sorridentes. Só dois ou três segundos depois o meu cérebro decifra o som da tua pergunta.

Pois O cenário. Não tínhamos falado disso


Respondo, começando devagarinho, espreitando as tuas reacções e procurando não ferir susceptibilidades:

— Eu pretendo, sobretudo, destacar-te, a ti O teu rosto, o teu corpo — e, se conseguir, a tua alma Para isso, prefiro um cenário minimalista, de estúdio, com um fundo neutro e uniforme — ou, não sendo possível, uma parede lisa, um lençol esticado, um fundo longínquo e desfocado Mas, se queres começar por umas fotos no teu ambiente, vamos a isso. Sugiro a biblioteca, pode ser que se consiga tirar proveito das lombadas dos livros.


***

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Dueto (parte I)

Regresso ao palácio. 

À minha chegada, denoto o portão entreaberto e espreito para perceber quem me visita. Claro. Esquecera-me por completo; a sessão!

Vislumbro o teu semblante no topo da escadaria que leva ao palácio. Estás de negro, como eu, embora de indumentária mais sóbria, quase senhorial. 

Fecho o portão e ao encaminhar-me para a escadaria, já me observas. 


***


Fico mais tranquilo. Já estava à espera há 10 minutos e receava que te tivesses arrependido.

Sobes, degrau a degrau, pausadamente, e isso dá-me o tempo de que preciso para apreciar, em primeiro lugar, a tua silhueta, depois, o teu modo de andar, em seguida, o teu rosto e, finalmente, os teus olhos luminosos.

Olhas-me com franqueza e, com um sorriso, dizes-me:

— Olá! Atrasei-me um bocadinho


***


 Espero não te ter feito esperar muito tempo. Entramos?

Encaminho-te para o interior do palácio, enquanto olhas ao teu redor. As janelas e tectos altos deixam entrar a luz ténue deste friorento dia de Outono, iluminando os painéis de azulejos seculares. 

 Terei de tomar um duche rápido, mas deixo-te no bar. Ficas mais confortável lá.  Digo-te, enquanto te tiro o sobretudo para o pendurar. — Segue-me, por favor. 

Sorrio divertida ao ver o teu espanto ao chegarmos ao bar. Recordo quando resolvi remodelar esta assoalhada e o ar igualmente espantado do decorador, quando lhe disse que queria decorar o bar ao estilo Grémio Literário no Chiado. 

 As garrafas estão naquele balcão, caso queiras tomar algo para te aqueceres. Fica à vontade. Volto em 20 minutos. Devo vestir algo específico ou maquilhar-me?

domingo, 2 de janeiro de 2022

Breath taking

Sempre que me recordo de ti a minha respiração torna-se ofegante. Principalmente neste mês, o que dá as boas-vindas ao Inverno, ao qual temos a obrigação de combater o frio o melhor que podemos. 

Recordas os nossos encontros? As nossas trocas de palavras? Os nossos toques? Não me permites que o esqueça. Volta e meia, a tua notificação transporta-me para um ano longínquo. 

Não consigo evitar em pensar “e se?”. E se não tivéssemos seguido com as nossas vidas? E se tivéssemos tentado uma vida em conjunto?

Adianta de algo? Não. Desejo actualmente que o rumo da minha vida tivesse sido outro? Também não. Mas também não te esqueço e ter-te no presente na minha vida, ainda que em circunstâncias fora do comum, é um prazer. 

A seu tempo falaremos melhor. Iremos rir, beber, falar do que mudou, no que se manteve igual, no que gostaríamos que tivesse sido diferente, naquilo que jamais mudaríamos. 

Mas há noites que nos tiram a respiração. E uma delas, foste tu quem ma ofereceu. 

sábado, 25 de dezembro de 2021

Christmas

 Que melhor presente existe além de nos desembrulharmos mutuamente para um consumo momentâneo de calorias?

Nenhum. 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Sadness holder

 Vejo árvores despidas com os seus ramos frágeis ao vento, outras ainda de folhagens douradas. Sinto este isolamento, esta solidão instalada, por mais criaturas que estejam em meu redor. 

Não é ao acaso, no entanto. Aquilo que por vezes julgo seguro e inabalável, por vezes ameaça com tremores. E com eles, uma fenda aqui, outra acolá, vão surgindo. O desgaste é por demais evidente. Tenta-se manter uma casa de pé sem os principais alicerces que a devem sustentar. Uma tarefa inglória. 

Chega a tristeza. Aquela tristeza que se vai entranhando sem darmos conta, que nos ultrapassa a pele como o gelo polar e nos tenta estalar os ossos. Já é tarde e não se consegue ignorá-la. Escorrem lágrimas salgadas num rosto que se mostra já débil, cansado, exausto. Não se sabe bem porquê, mas coloca-se tudo em equação. Prós e contras de realidades alternativas. 

E enquanto vou ponderando, vou acumulando tristezas, na esperança de me ver livre delas. 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

In Progress

Ando pelas ruas da baixa da cidade sem nenhum destino em mente. Perco-me em vielas, absorta em pensamentos, fugindo às enchentes de pessoas atraídas pela iluminação natalícia e com a urgência que um subsídio de Natal implica. Vagueio, naturalmente, com música nos ouvidos, alheia a todo um corropio mal educado que as enchentes natural e bizarramente provocam. 

Sinto frio. Saí do palácio com gola alta, calças de ganga, botas altas e sobretudo, mas o frio continua a ultrapassar as barreiras que lhe impus sem qualquer tipo de dificuldade e pudor. Enfio as mãos nos bolsos para as aquecer. Relembro a última reunião que tivemos, mais aquecida. Sorrio e trinco o lábio com algumas das memórias que me proporcionaste. 

No entanto, não atendo as tuas chamadas nem respondo às tuas mensagens. Free lancer não tem contracto nem vínculo institucional e, por mais ávido e desejoso de colaborar novamente, terás de aguardar contacto da minha parte. Passo pela ruela onde outrora trocámos algumas dissertações. Estreita e obscura, desencoraja transeuntes a se aventurarem por cá. Palco de respiração sôfrega, corpos quentes e com muita agilidade para fintar vestuário invernal, o cenário ideal para muitas das nossas reuniões em noites frias. 

Olho à minha volta. O ruído da cidade está abafado por estas paredes antigas, testemunhas de tanto. E decido; próxima reunião voltaremos a este palco, voltaremos a entrar em cena no melhor que sabemos fazer por ambos. O meu telefone vibra. És tu novamente. Sorrio. Ainda vais ter de esperar. 

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