Detesto-te. Tornaste-te em tudo aquilo que nunca foste para mim: descartável. Deixei de recordar as nossas memórias com saudade; já nada há de prazeroso a lembrar.
Miragem. Um efeito visual de algo que afinal não está ali, ou que nunca foi o que parecia.
Não consigo, nem quero, encaixar-me no molde que desenhaste para nós. As minhas asas são demasiado largas para a mesquinhez com que agora me tentas tratar.
És um pacote bonito e bem vestido, até bem falante, mas de alma oca, vazia.
Sabe-me bem dizer-te não.
Sabe-me bem recusar-te.
Sabe-me bem apontar-te a porta do meu palácio enquanto deixo a tua gabardina cair aos teus pés.
E sabes porquê?
Porque eu sou mais do que o teu atalho para noites apressadas. Sou pele, sim, mas também mente, história, cicatrizes, vontade, critério, mundo próprio e uma verdade que não se vende ao primeiro gesto fácil.
Sou intensidade que não se serve em copos descartáveis.
Sou presença que exige profundidade, que pede raízes, que não se satisfaz com restos disfarçados de desejo.
Eu sou tudo o que tu nunca tiveste capacidade de alcançar, e exatamente por isso é tão simples fechar-te a porta.


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