Sabia que vinhas. Fui a causa da tua insónia.
Preparo-me lentamente. Deixo o meu cabelo solto, esgueiro-me para dentro do meu vestido mais recente, negro, decotado e saio do palácio para as ruas de Sintra.
Observo-te divertida, enquanto diriges sem cuidados uma trotinete. Ainda não tens a menor ideia de como vai acabar o teu dia, pois não? Decides finalmente vir ao meu encontro. Caminhas envolto nos teus pensamentos, vestido de negro, altura em que decido interferir.
Subo as escadas da ruína, o vento sopra forte, levando os meus cachos dourados pelo ar à medida que subo cada degrau e ciente de que já me observas. Olhei para trás e sorri-te, chamando-te até mim com um dedo.
Levei-te até ao fundo do poço iniciático, devagar, pé ante pé. Não proferiste nenhuma palavra, nem mesmo quando chegámos ao fundo e te sussurrei ao ouvido:
- Ficaremos aqui até ao anoitecer, até a lua surgir lá no alto e nos iluminar o caminho de volta. Shhhhh… - sorri-te novamente, observando a tua linguagem corporal. Algo curioso, arrepiado. Mas mantiveste-te em silêncio como te pedi.
A noite chegou, e com ela toda uma luz prateada lunar inundou o poço. Fiz-te sinal para me seguires novamente. Pigarreaste para me dizeres algo, mas de imediato te disse novo “shhhhh!”. Sussurraste:
- Podes pelo menos dizer-me o teu nome…?
- Alice. Shhhhh… - respondi, sorrindo.
Seguiste-me em silêncio, mas sentia-te intrigado, atraído ao desconhecido, tenso de certa mas positiva forma. “Que louca será esta mulher, que me arrasta para o desconhecido sem que consiga proferir uma palavra?” - pensas certamente para contigo. No entanto, sabes agora que isto iria acontecer, sentiste. Era inevitável.
Abro os altos portões do meu palácio e cedo-te a entrada. Olhas à tua volta, curioso. Observas as sombras em teu redor, as árvores que dançam à medida que o vento sopra e a mim, quando passo por ti e começo a subir a escadaria de acesso ao palácio. Entendeste nessa altura que não irias ter necessidade de verbalizar nada, quando te olhei da entrada do palácio.
Entro. Continuas a seguir-me em silêncio observando todos os recantos do palácio. A atmosfera é única; luz ténue de vários castiçais de velas banhadas pela luz prateada da lua. Inspiras, sentes todos os aromas da história do palácio a que chamo lar e cruzas o olhar com o meu.
Sentei-me entretanto numa arca em madeira muito escura, centenária, enquanto te permitia absorver tudo o que vias. Aguardei que encontrasses o olhar com o meu e abri as pernas, chamando-te, atraindo-te para mim.
Notei a avidez no teu semblante. Queres-me. Desejas-me. Permito-te aproximares-te quanto baste e toco-me entre as pernas sem qualquer tipo de pudor. Respiro ainda pausadamente, embora sinta o teu compasso acelerar. Suspiro. Levo os dedos à boca e provo-me regalada como se de um doce se tratasse enquanto te olho nos olhos.
Chamo-te até mim sem proferir uma palavra. Sinto o calor do teu corpo, a tua respiração no meu ouvido, as tuas mãos que deslizam nos meus braços nus explorando cada centímetro de pele. Oiço o deslaçar do corpete do meu vestido. Entrelaças as mãos nas minhas e puxas-me para ti, cruzamos o olhar cúmplice. Deixo cair a cabeça para trás e fecho os olhos. Sinto a tua língua no meu pescoço, a tua respiração quente enquanto inicias um lento e prazeiroso percurso rumo a sul.
Os meus gemidos ecoam pelo palácio. Puxo-te com força para cima e beijo-te o néctar que me querias roubar. Pego na tua mão e puxo por ti. Sigo nua, apenas com meias de liga vestidas. Faço-te conhecer cada assoalhada do palácio demoradamente, sofregamente, sentindo-te dentro de mim em todos os recantos.
Caímos ambos em êxtase com o escoar da última luz de prata da noite. Descanso no teu abraço, aninhada numa segurança quase infantil, até ao raiar do sol.
Estás adormecido, tranquilo. Escapo do teu abraço, não sem antes te cheirar uma vez mais e te passar com a língua pelos lábios. Acordarás em breve, nas tuas quatro paredes e saberás que existo.
Até breve.
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