Percorro as ruas do Porto com o Layne Staley nos ouvidos. Deixo-me envolver pela força e dureza das suas palavras enquanto recordo a nossa paixão.
Crua, corrosiva, como uma droga consumida até à exaustão na extenuante busca daquilo que nunca chegaria.
Passam em flashback retalhos da nossa estória; a minha língua a percorrer-te os lábios, os teus dedos entre as minhas pernas, o brilho daquela vela reflectido em corpos suados, os cabelos desalinhados, eu de gatas enquanto desço pelo teu tronco, as minhas costas arqueadas enquanto a tua língua inicia a jornada pelo meu pé acima…
Olho para o céu. Está carregado, cinzento, ameaçador. Troveja longe e sei que não demorará muito a chover. Meto o gorro do casaco e cruzo os braços na tentativa de evitar o frio. Mas não me desvio do meu destino. Faço sinal a um táxi para que me leve àquela praia, à nossa praia.
Quando chego, já chove. Não há vento e a temperatura está curiosa e estranhamente mais amena. Tiro o gorro, fecho os olhos e inclino a cabeça para o céu enquanto não me sais da cabeça. Gotas misturam-se com lágrimas e escorrem-me no rosto. Sorrio. Não oiço a tua voz há anos, mas parece que te sobrepões à minha música e me sussurras ao ouvido.
- Alice? És mesmo tu? - oiço. “Não pode ser”, penso. Estou a enlouquecer. Não é real.
- Alice… - oiço mais próximo a mim. Oiço a areia movimentar-se em passos receosos, mas consistentes. Não pode ser imaginação. Viro-me e… és tu, igualmente ensopado e arrepiado da chuva que insiste em cair.
Não te respondo e coloco o indicador nos teus lábios quentes para impedir que fales novamente. Entrelaço a minha mão esquerda na tua mão direita, cheiro-te, roço o meu rosto no teu em busca daquilo que já fomos. Passo um dedo nas tuas sobrancelhas enquanto te olho sem abrir os (meus) olhos. És mesmo tu. Estás mesmo aqui.
Passo-te com a língua nos lábios e caio no teu abraço. És meu, novamente.
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