Saio do meu palácio rumo à serra. Estou vestida de negro como o céu acima de mim. Tanto o céu como a floresta reclamam comigo. Devo-lhes a minha presença há algumas semanas.
Embrenho-me entre pinheiros altos e fora dos convencionais trilhos já conhecidos. Apesar da negritude, oiço os pássaros nas árvores mais activos do que é habitual. À altitude em que me encontro, o frio impõe-se sem pudor, trespassando casaco e camisola até me atingir na pele. Coloco o gorro para me proteger o melhor que posso, mas continuo a subida, determinada.
Determinada a quê? Não sei. O Inverno afecta-me. Não só fisicamente, como também a nível emocional. Tenho necessidade não só de me fechar no meu palácio, onde facilmente me encontram, mas de me ligar a esta minha floresta negra, tão negra quanto o meu semblante.
Chego ao topo sôfrega. Não parei na subida um único segundo. Quando páro, penso. E não quero pensar. Procuro a orla da floresta e olho para o horizonte. Ténues raios de sol insistem em furar as negras nuvens que se impõem como muralhas. E conseguem. Sorrio.
A Natureza sempre foi sábia. Ou não seria apelidada de Mãe. Este cenário mostra claramente que qualquer negritude da nossa vida, pode ser trespassada por episódios felizes.
Fecho os olhos e relembro os meus no último ano. Afasto todas as nuvens para os relembrar, um a um. De repente, oiço as minhas gargalhadas a ecoarem colina abaixo e floresta dentro. Abro os olhos surpreendida. Passaram várias horas desde a minha chegada, mas não me sinto gelada. Levanto-me e espreguiço-me.
Estou mais leve, estou feliz.
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