Há sempre um artista, seja em que arte for, que só se sente inspirado quando a tristeza o invade.
Eu, desprovida de qualquer traço artístico, escrevo de duas formas; quando me sinto inspirada por me elevarem a um patamar de quase êxtase ou por pura decepção, por me arrastarem de volta à floresta sombria e sempre húmida onde nenhum sol perfura a copa cerrada das árvores.
Quando são ambos no mesmo dia… bom. A minha mente grita, exige a escrita para extravasar o tumulto interior.
Desta vez a Eva não apareceu e a Petra tarda em chegar. Espreito, através de uma brecha da janela do meu quarto, o corropio acelerado dos aldeões no comércio junto aos muros do meu palácio. Suspiro. Uma brisa sopra e encontra a brecha da minha janela. Sinto o meu corpo nu estremecer por baixo do meu curto roube de seda e opto por regressar ao interior e deixar os aldeões trabalharem sossegados. Sei que ficam sempre meio tensos nestes dias que me afectam, ainda não percebi bem como o sentem nem porquê.
Pego na caneca do meu café e sento-me na minha secretária. Caderno aberto, pautas vazias, caneta na outra mão, respiro fundo e… só páro a escrita que apazigua a febre que trago dentro de mim quando a escuto:
- Estás inspirada, Alice. Mas estas curved balls não deviam ser novidade para ti. - diz-me Petra, recém chegada no seu habitual silêncio negro e pele de mármore.
Desta vez, não me deixo conduzir por ela. Yin & Yang. Alice é Petra. Petra é Alice. Levanto-me, dispo o roube e avanço na sua direção. Os seus maravilhosos e profundos olhos verdes trovejam na antecipação do que sabe que tem de ser e que não pode ser de outra maneira. Abro-lhe o fecho do seu vestido negro que cai no chão, deixando-a igualmente nua. Sorrimos.
Acaricio-a com a ponta da minha unha do indicador direito de forma muito subtil, vendo a sua reação corporal, o arrepiar, os seus mamilos a ganharem forma, as suas costas a curvarem ligeiramente pela te(n)são e antecipação. Não, Petra desta vez não conduz. Deito-a na minha cama, já conhecedora de entrevistas idênticas entre nós e entrelaço a minha língua na sua, prendendo-lhe as mãos com a minha mão esquerda. Não, Petra desta vez não conduz. Conformada, mantém-se o mais imóvel possível enquanto vou investindo sobre si, num declive vertiginoso até ao seu entre-pernas. Petra já escorre por mim. Petra já escorre para mim. Petra explode na minha boca, e sinto-lhe o sabor em toda a sua plenitude. Não, Petra desta vez não (me) conduziu.
- Estas curved balls, efectivamente, não são novidade para mim, mas acabei de ser uma curved ball que não previste. - sussurrei-lhe.
Petra sorriu e anuiu.
- Tal como a tua sentença, a aplicar já de seguida, será novidade para ti. - responde-me, enquanto me invade entre-pernas com os seus longos e delicados dedos.
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