Sim, sinto muito o mundo. Penso muito o mundo.
Diziam-me há dias que é algo positivo; afinal de contas, a maioria das pessoas arrasta-se nos seus dias, incapazes de pensar ou sentir, dormentes pela rotina do quotidiano.
Talvez seja isso. A minha gaiola da rotina é demasiado pequena para mim. Preciso do meu poleiro fora dela para ir observando a vida a acontecer. Sim, sinto muito o mundo. Penso muito o mundo. Questiono tudo, todas as acções realizadas e as que ficaram por concretizar. Questiono tudo, todas as palavras escritas e as que ficaram por escrever. Questiono tudo, todas as palavras que proferi e as que ficaram por dizer.
Sigo rumo ao oceano, onde a alma sossega com o ruído de ondas violentas e à medida que sinto a areia fria entre os dedos dos pés. A espuma vem refrescar-me o rosto com a brisa salgada, como se tivesse conhecimento do meu estado febril. Sim, sinto muito o mundo. Penso muito o mundo. Nada neste pontão pacato me faz sossegar o caos (des)organizado da minha mente. É somente um porto seguro. O café quente numa manhã de Inverno, a manta reconfortante no sofá numa matiné de Domingo. É bom, mas incapaz de travar ondas, inapto para capturar ventos rebeldes, inadequado para impedir trovões que iluminam a lezíria por inteiro.
Sim, sinto muito o mundo. Penso muito o mundo. Sofro o mundo. Sufoco com o mundo. Choro o mundo uma e outra vez pela frustração de não conseguir controlar a tempestade que não é minha.
Respiro fundo e sinto o mar a beijar-me os pés no pontão. Mantenho-me de olhos fechados, com a túnica a esvoaçar ao vento, fundindo-me completamente na tempestade que é minha. Esta controlo. Esta sinto. Esta penso. Esta sofro. Esta sufoco. Esta choro. E mergulho.
Consegues sentir o mundo?
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