O que é, afinal, certo e errado? O que torna uma moral social mais ética que o instinto primário da saciedade de necessidades básicas, primitivas?
Recebi a tua proposta num misto de excitação e apreensão. Sim, cativa-me a perspectiva. Sim, preocupa-me tudo o resto. Sigo, ainda assim, ao teu encontro.
Encontros contigo são sempre joviais, quase adolescentes, de tanto nos rirmos e das horas passarem como se fossem minutos. É fácil estar contigo. É agradável ter um porto seguro e uma confiança inabalável em ti.
Seguimos rumo ao objectivo a que nos propusemos. Conversamos e rimos como sempre, embora as respirações entrecortadas pelo esforço da subida me desviem a atenção para a proposta que me fizeste há dias. Seria inevitável, não é?
Resolvo testar-te no primeiro indício de trilho e pergunto-te onde vai dar. “A lado nenhum. Nunca ninguém segue esse trilho antigo.” - respondes-me. Solto um esgar e sigo pelo trilho. Segues-me sem proferir uma palavra. Sabes que não valeria a pena dizer nada.
Ao fim de uns cinco minutos a caminhar, a desviar ervas e silvas mais altas que o desejável, alcançamos uma pequena clareira. Nada se ouve a não ser a natureza em geral. Fecho os olhos e espreguiço-me, esticando os braços para cima.
E sinto o teu toque, que me baixa os braços lentamente para junto do tronco e me sussurras: “Não era suposto, Alice, mas irei agir aqui. Pararei a uma palavra tua nesse sentido. Sabes que sim.” - respiro fundo, nervosa, numa tempestade interna entre certo e errado, mas limito-me a acenar ligeiramente com a cabeça sem abrir os olhos.
Sinto a venda. Agora não adianta tentar abrir os olhos. Mas continuo em silêncio. Volto a suspirar na antecipação do que irá acontecer. Estou em terreno desconhecido e mantenho o misto de emoções entre a estonteante excitação e a, ainda, apreensão que não me abandona.
Sinto prenderes-me os pulsos. Mas não com algemas. Ao toque, parece-me um tecido suave. Cetim? Ou talvez seda? Sei que me posso libertar facilmente se assim o desejar.
Encaminhas-me alguns metros e sinto o fresco da sombra. Estamos debaixo de uma árvore. E o teu toque invade-me. Começa com um polegar nos meus lábios. Desce para o meu pescoço, segue rumo ao meu decote. Sinto agora as duas mãos, uma de cada lado, contornam a linha do meu peito sem toque específico. Suspiro novamente, desta vez mais sensorial, menos nervosa. Mais receptiva, menos apreensiva.
Sinto tirares-me os calções. Não me descalças. As cuecas ficam no seu lugar. Sinto-me escorrer. Já estou a escorrer e nada se passou. Volto a suspirar. Não proferes uma palavra e é assim que tem de ser. Invades-me entre-pernas e confirmas o quão molhada estou. Não proferes uma palavras, mas deixas fugir um gemido de prazer. E é assim que tem de ser.
Entras em mim com dois dedos, devagar, com ritmo, enquanto me enquadro na dança em que me desejas ver. Não é difícil. Virei sensorial e já nem sei onde estou. Só sinto. Sinto-te roçares em mim, sinto-te duro contra o meu baixo ventre. Volto a gemer, desta vez em uníssono contigo.
Não aguento mais. Tudo é sensorial elevado a um expoente quase doloroso. Liberto as mãos e enlaço o lenço da minha anterior prisão no teu pescoço e puxo-te para mim. Volto a senti-te, a latejar contra mim. “Alice, assim não será possível parar…” - sussurras. “Shhhhhhh…!” - respondo.
O desfecho é mais que óbvio. Sinto as tuas mãos elevarem-me num colo que me faz encaixar em ti, de uma só vez. Foda-se. Ficamos assim, trinta segundos, muito quietos, a assimilar a sensação há muito imaginada sob as mais diversas formas de criatividade.
Começo a querer mexer-me e sentes o meu interior a pulsar, a puxar-te para a dança necessária. É tango e são necessários dois. Empurras-me contra a árvore com o cuidado de colocares uma das tuas mãos a fim de me protegeres as costas e saboreias o ritmo possível enquanto as minhas pernas te abraçam numa fricção que grita por um desfecho.
E sinto-te. E sinto-me. Dá-se o desfecho há muito desejado e imaginado e sonhado e até mesmo renegado. A brisa envolve-nos e proporciona um arrepio conjunto e prazeiroso ao suor de corpos húmidos. Respiramos de forma ofegante até conseguirmos retomar algo minimamente decente. Dás-me um abraço e beijas-me levemente até me sentares no teu colo, de costas para ti, ainda de venda e dizes-me com a maior naturalidade do mundo:
“Chega de desporto por hoje. Vamos almoçar, miúda?”
1 comentários:
Dualidade
Recebo-te com um misto de tranquilidade e uma excitação quase juvenil, enquanto me diriges um olá tímido e perguntas como estou. Sorris porque sabes que as formalidades e as convenções sociais não são de todo necessárias e avançamos num silêncio cúmplice para o elevador. O som mecanizado entrecorta uma breve troca de olhares e ecoa por todo o espaço, como que relembrando-nos que o dia mal acordara.
- Sabes que tinha saudades tuas Alice e hoje tenho algo especial só para ti. Sei o quanto ficas ansiosa, mas sabes que podes confiar em mim.
Retorquis com um leve abanar de cabeça - Sabes que não é justo e também sabes nem devia estar aqui.
- Devo recordar-te que cumpro sempre as minhas promessas, mas olha ...acabámos de chegar. Aguardas pacientemente enquanto procuro as chaves de casa e somos recebidos por um cheiro leve de incenso que vai perfumando o ar. Caminhamos até à sala mal iluminada, com uma cadeira colocada ao centro, entre o sofá e a televisão . - É ali que vais ficar sentada Alice, agora não quero que digas mais nada, até porque sabes que não temos muito tempo. Apesar de surpreendida anuíste decidida ao meu pedido e o teu ritmo cardíaco aumenta, enquanto retiro de uma gaveta uma venda e algemas. Sem dizer uma palavra, aponto para as tuas mãos, a convidar te para te submeteres a mim..coloco-te gentilmente as algemas em cada um dos pulsos até ouvirmos o clique característico. Coloco-me por detrás de ti e sussurro-te ao ouvido - As algemas é para ter a certeza que te portas bem.
Coloco-te a venda e sussurro-te novamente.. - Agora vais esperar por mim. Vou tomar um duche muito rápido e depois vou vestir-me à tua frente, enquanto te observo. Sei que o breve momento em que saio da sala e ficas sozinha, te vão deixar desconfortáveis, mas sabes instintivamente que adoro cada momento de tensão. Segues-me apenas através dos sons e sabes que acabei, quando a água deixa de correr. Ouves a toalha a percorrer-me o corpo e sentes a minha presença novamente ao pé de ti. Não te consigo resistir e beijo te levemente o pescoço, sinto o teu cheiro uma e outra vez. Tentas mexer-te mas não deixo. Digo-te baixinho - vamos ter de ir agora miúda, o nosso tempo está a acabar. Fecho os olhos e percorro-te com as minhas mãos, sinto-te trémula e impaciente. Acaricio te o peito e todas as tuas formas. Estou cada vez mais duro por ti e sinto como se estímulos elétricos me percorressem todo o corpo. Coloco-me à tua frente e de joelhos puxo te a blusa para cima. Quero ver-te. Tentas resistir um pouco, mas algemada sabes que sou eu que controlo. levanto-te o sutiã e beijo-te os mamilos duros lentamente. Deixo cair a toalha e troco a minha boca pelo meu membro duro. Acaricio-me para ti e sentes o meu pulsar no teu peito. Baixo-me novamente, abro-te as pernas e por cima da tua roupa, sinto a tua cona. Levanto-me e visto-me ainda trémulo. Estou novamente atrás de ti e digo-te ao ouvido - Isto é tão errado, vamos ter de parar.
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